Poeta do Mês – Maio

Manuel Alegre de Melo Duarte nasceu a 12 de maio de 1936 em Águeda. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde foi um ativo dirigente estudantil. Apoiou a candidatura do General Humberto Delgado.

A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar a persegui-lo, tendo passado à clandestinidade e saído para o exílio em 1964, em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num símbolo de resistência e liberdade. Os seus poemas, cantados, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade.

Trova do vento que passa

   Pergunto ao vento que passa
   notícias do meu país
   e o vento cala a desgraça
   o vento nada me diz.
   Pergunto aos rios que levam
   tanto sonho à flor das águas
   e os rios não me sossegam
   levam sonhos deixam mágoas.
   Levam sonhos deixam mágoas
   ai rios do meu país
   minha pátria à flor das águas
   para onde vais? Ninguém diz.
   Se o verde trevo desfolhas
   pede notícias e diz
   ao trevo de quatro folhas
   que morro por meu país.
   Pergunto à gente que passa
   por que vai de olhos no chão.
   Silêncio – é tudo o que tem
   quem vive na servidão.
   Vi florir os verdes ramos
   direitos e ao céu voltados.
   E a quem gosta de ter amos
   vi sempre os ombros curvados.
   E o vento não me diz nada
   ninguém diz nada de novo.
   Vi minha pátria pregada
   nos braços em cruz do povo.
   Vi meu poema na margem
   dos rios que vão pró mar
   como quem ama a viagem
   mas tem sempre de ficar.   
   Vi navios a partir
   (Portugal à flor das águas)
   vi minha trova florir
   (verdes folhas verdes mágoas).
   Há quem te queira ignorada
   e fale pátria em teu nome.
   Eu vi-te crucificada
   nos braços negros da fome.
   E o vento não me diz nada
   só o silêncio persiste.
   Vi minha pátria parada
   à beira de um rio triste.
   Ninguém diz nada de novo
   se notícias vou pedindo
   nas mãos vazias do povo
   vi minha pátria florindo.
   E a noite cresce por dentro
   dos homens do meu país.
   Peço notícias ao vento
   e o vento nada me diz.
   Mas há sempre uma candeia
   dentro da própria desgraça
   há sempre alguém que semeia
   canções no vento que passa.
   Mesmo na noite mais triste
   em tempo de servidão
   há sempre alguém que resiste
   há sempre alguém que diz não.
   Versão integral do poema escrito em 1963 e incluído no livro _Praça da   Canção (1965).
          

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