Italo Calvino disse que “um clássico era um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.
Às vezes gosto de pensar que se estava a referir à obra prima de Ray Bradbury, Fahrenheit 451, que, passados quase setenta anos, continua tão, senão até mais, relevante do que aquando a sua publicação em 1953.
Um dos mais importantes livros de ficção científica já escritos, Fahrenheit 451, transporta-nos para um mundo não muito futurista, onde Montag, um simples bombeiro, começa a ter dúvidas acerca do seu trabalho, depois de uma conversa com a sua jovem vizinha tida como “louca”.
Talvez se perguntem: o que é que há para duvidar sobre o trabalho de um bombeiro? A verdade é que Montag não é um bombeiro no sentido a que estamos habituados. Na sociedade onde vive, não existe a necessidade de apagar incêndios, tudo é à prova de fogo, exceto o que Montag queima, os livros.
Na sociedade onde vive, os livros são proibidos e qualquer pessoa que os tenha na sua posse é perseguida e tida como louca.
A razão para esta “caça aos livros” é simples: as pessoas já não os querem ler.
E foi a partir daí que “Fahrenheit 451” se tornou um dos melhores livros que já li na minha vida.
Ao contrário da maior parte das tão conhecidas distopias, como 1984 de George Orwell, que atribuem a perda de direitos e de liberdades a um governo autoritário, Ray Bradbury parte de uma abordagem diferente. Neste livro, é a própria população que se oprime, escolhendo a ignorância porque esta parece mais confortável.
Como é dito por um dos personagens, pensar em livros e no que eles nos falam é apenas uma perda de tempo. Pior do que isso, deixam-nos tristes, ofendem minorias de todo o tipo e são apenas uma maneira de mostrar superioridade em relação aos outros. Existem guerras e outros passam fome, mas nada disso importa. O que é necessário são distrações, produzir felicidade, através da TV, dos parques de diversões, da adrenalina…
E agora, é de pensar: até que ponto a nossa sociedade é tão diferente da descrita pelo autor? Todos os dias, perdemos horas nas redes sociais a olhar para coisas bonitas, levamos com programas de televisão vazios onde apenas contam as audiências e onde tudo tenta captar a nossa “atenção”, sem que pensemos realmente nelas. Continua a haver guerras, fome e pobreza, ditaduras e injustiças, mas a realidade é que no fundo vivemos num mundo hedonista, onde, no final de contas, apenas o nosso prazer importa.
Ray Bradbury queixava-se nos anos cinquenta da televisão que “emburrecia” a população. No século XXI talvez tenhamos de admitir que a população, apesar da facilidade de acesso à informação, continua do mesmo modo e, assim como Montag, começar a salvar livros.
Maria João Ferreira Azevedo, 12ºB
Fahrenheit_451_-_A_Existencia_Humana_em_Chamas
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