O Apólogo é uma narrativa que busca ilustrar lições de sabedoria ou ética, através do uso de personagens inanimados com personalidades diversas.
Os mais conhecidos autores de apólogos são Esopo e La Fontaine. Também o português D. Francisco Manuel de Melo, em meados do século XVII, escreve Apólogos Dialogais apresentando um riquíssimo fresco social, imbuído de espírito satírico e animado de intenção moralística. É o caso, por exemplo, d’ Os Relógios Falantes, (em que dois relógios, um da cidade e outro do campo, expõem criticamente os vícios da máquina burocrática coeva) ou A Visita das Fontes (em que duas fontes, uma estátua e uma sentinela, anatomizam diferentes tipos humanos do universo cortesão).
PANELA DE FERRO E A PANELA DE BARRO A panela de ferro, um certo dia, Ao sair do esfregão da cozinheira Mui fresca e luzidia, Disse à de barro, sua companheira: «Vamos dar um passeio, Fazer uma viagem de recreio.» – «Iria com prazer, disse a de barro; Mas sou tão delicada, Que se acaso num seixo ou tronco esbarro. Lá fico esmigalhada! Acho mais acertado aqui ficar, Ao cantinho do lar. Tu sim, que vais segura: A pele tens mais dura.» – «Se é só por isso, podes ir comigo; É medo exagerado o teu – contudo, Se houver qualquer perigo, Serei o teu escudo». A tal dedicação, a tal carinho Não pôde a companheira replicar, E as duas a caminho Lá vão nos seus três pés a manquejar. Mas, ai! não tinham dado quatro passos, Numa vareda estreita, Eis que se tocam – e a de barro é feita, Coitada, em mil pedaços! Para sócio não busques o mais forte, Que te arriscas de certo à mesma sorte. in “Fábulas Escolhidas” de La Fontaine
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